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Aragão é antes de tudo um nada, mas um grande nada.

Tive a oportunidade de inaugurar este circuito durante a primeira prova que lá se realizou, o Renault World Series (que mandou um monte de pilotos para a F1…) Estava a acompanhar a coisa para o Eurosport, foi em 2009.

É simples, neste canto não tem... nada...

Exceto o alcatrão e os caroços. O circuito está tão perdido que o avistamos da estrada porque ainda havia escavadeiras gigantescas trabalhando na construção…

Não é uma posição, Coluche teria dito “nem um porto, nem uma pedra de moinho”, o canto perdido no meio do nada.

É simples, a província de Aragão tem três cidades importantes, Saragoça (é longe), Huesca (é muito longe) e Teruel, é ainda mais longe.

Aragão está longe, mas muito longe.

Para chegar a este circuito é preciso sair de Barcelona pela autoestrada até Tarragona (100 km) e depois é como se fosse a Volta à Córsega, durante 153 quilómetros, uma montanha de uma beleza incrível, uma estrada brilhante para quem conduzia (os outros só temos que nos abster de fazer Raoul) e então dissemos a nós mesmos que não haveria Pequim no dia da corrida.

Aragão é um milagre, um grande milagre…

Porque no domingo os espectadores estavam lá aos milhares, às dezenas de milhares...

Esse é o milagre dessas cidades oásis no deserto em dias de mercado, vemos um mundo maluco aparecer sem realmente entender de onde vieram ou como...

Em 2018, o GP de Aragón teve 114 mil inscritos…

É certo que como espectadores não estamos no GP de França nem na Tailândia, mas ainda assim é mágico no meio do nada.

Aragão é uma história, uma história suja.

E fede. Por causa de Fernando (não o de Abba, o de Isabel de Castela, Fernando em francês) que acabou de reforçar a Inquisição na Espanha (1481) Inquisição que é um dos maiores bastardos da humanidade. Depois massacrou os sefarditas, os que não queriam se converter e depois os que se converteram... Erro enorme, a Espanha perdeu os seus médicos, os seus astrónomos, os seus cartógrafos, os seus cientistas... No mesmo ano, 1492, envia Colombo partiu em três caravelas podres para despojá-lo de todos os seus bens quando voltasse da América Central.

Bem, Fernando e Isabelle, é antigo, é insuportável, também já aconteceram algumas coisas bem sujas conosco, então sem moral, só um lembrete.

Aragão é um poeta, um poeta imenso…

Com música de Jean Ferrat, Léo Ferré, Brassens…

Eu sei, esses artistas às vezes tinham convicções fortes, mas eles próprios não mataram ninguém, pelo contrário, quantos casais se formaram em “A mulher é o futuro do homem”?

Aragon é finalmente uma canção, um fenômeno… (cuidado, apenas para pessoas muito iniciadas) de Bobby Lapointe.

Enfim, para um lugar deserto, inspira coisas… Aragão…

Aragão é uma vila medieval. Ao pé do circuito. Noites doces como mel, três notas de guitarra flutuando nas ruas inclinadas... Depois do som e da fúria do circuito, Alcañiz é mágico...

Aragão é um tesouro…