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É comum que um piloto não consiga dizer por que seus tempos são lentos, pelo menos em comparação com suas próprias expectativas. Por que ele está lutando? Por que ele não tem mais essa “coisa”? Tantas perguntas que permanecem em grande parte sem resposta. Mas você já viu um motorista não conseguir explicar por que é mais rápido que todos os outros? Uma retrospectiva do mistério que cerca o talento de Alberto “Johnny” Cecotto, ex-piloto de Grande Prêmio.

Nada é normal com Alberto. Em primeiro lugar, a sua nacionalidade: nascido em Caracas, na Venezuela, em 1956, filho de pais imigrantes italianos, rapidamente se acelerou; naturalmente, segue os passos de um pai ex-campeão nacional. Mas assim que ele pousa em um veículo de duas rodas, algo acontece. Um fenômeno incomum. Ele tem uma velocidade absolutamente louca, sem realmente entender o porquê.

Então, e com muita naturalidade, ele começou a competir. Touché. Ele acerta a marca com muita rapidez, o que impressiona os cariocas: com apenas 17 anos já é campeão da Venezuela. Enquanto acumulava títulos nacionais e continentais, foi contratado pela importadora venezuelana Yamaha para participar da lendária Daytona 200.

Numa Yamaha TZ700 original, e com pouco apoio material da sua equipa Venemotos, conseguiu qualificar-se entre os melhores. Mas um problema mecânico – que em última análise não foi um problema – pouco antes da largada o forçou a largar dos boxes. Naquele momento começou uma das façanhas mais impressionantes da história do motociclismo.

 

 

Johnny Cecotto, apenas um ano após a sua chegada ao mundo, não consegue fazê-lo nas 500cc. Porém, ainda tem algumas boas sobras em sua categoria favorita, as 350cc. Aqui fotografado por Spurzem em Nürbürgring. ele terminará em segundo.

Começando em último, ele subiu a maior parte do pelotão em apenas algumas voltas. O seu ritmo continua a aumentar e diante de um público atônito, ele tem o luxo de ultrapassar Giacomo Agostini na 50ª volta! Dificilmente crível. Ele ainda terminou em terceiro lugar nesta corrida maluca. Poucos meses depois, este OVNI juntou-se ao velho continente em busca do sucesso.

Leais à Venemotos-Yamaha, competiram com ele nos campeonatos de 250cc e 350cc em 1975. Na primeira corrida da temporada, em Le Castellet, Johnny venceu em ambas as categorias com apenas 19 anos, um grande feito.

Apesar de mais uma vitória na Bélgica nas 250cc, não terminou no pódio final. Cecotto está muito mais confortável nas 350cc, onde tem uma série de troféus. Giacomo Agostini, detentor do título há sete temporadas (!), faz uma careta. Ele é obrigado a reconhecer a superioridade de Johnny, titulado aos 19 anos, recorde de precocidade.

Resumindo: em 1973, Cecotto conquistou o campeonato venezuelano em sua categoria. Dois anos depois foi campeão mundial de 350cc em derrotando 'King Ago', sete vezes campeão mundial. Uma trajetória maluca, que ele mesmo não entendia…

 

 

Este talento puro terá lhe rendido a oportunidade de cruzar espadas com os melhores da história. Aqui em Assen 1978 nas 500cc, uma das suas três vitórias nesta categoria. Pego em flagrante por Rob Bogaerts, o vemos, na liderança, lutando com Barry Sheene (n°7) e Kenny Roberts (n°1).

 

Esse era todo o problema. Alberto não conseguia identificar seu talento. Ele era naturalmente rápido e, quando a pressão aumentava, ou quando as façanhas precisavam ser repetidas por várias temporadas, ele não atendia ao chamado.

Envolvido nas 500cc numa Yamaha privada em 1976, ele simplesmente não conseguia mais fazê-lo. Ele cai muito, a ponto de se machucar durante anos, e sempre correndo atrás dessa segunda coroação que nunca chegará.

Certamente, ele ainda venceu algumas rodadas, notadamente o Grande Prêmio da Venezuela de 1977 na categoria 350cc, etapa que existiu em parte graças à sua popularidade. Ele até ganhou um título de Fórmula 750, mas não é a mesma coisa. Entre a falta de organização da sua equipa Venemotos e o seu inexplicável talento que o penalizou mais do que qualquer outra coisa, decidiu reformar-se em 1980 com apenas 24 anos.

Pelo menos, sobre duas rodas. Na verdade, ele se sentiu muito confortável com quatro, talvez até mais do que com dois. Ele é um dos poucos que teve uma carreira de sucesso no selim e nas corridas, principalmente na Fórmula 1, mas também na Fórmula 2, DTM ou resistência. Uma carreira atípica para um piloto extraordinário. Olá quebra-cabeça…

 

foto da capa: panini