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Qual é a maior corrida da história do motociclismo? Por mais de cem anos, heróis se enfrentaram, amigavelmente ou não, em máquinas preparadas ou não, em todo o mundo. Algumas dessas justas entraram no panteão, seja por causa de uma batalha feroz ou de uma façanha individual. Hoje, vejamos o que consideramos o mais belo, o mais lendário, mas também o mais triste de todos, tendo em conta o aspecto dramático sem paralelo.

Não há necessidade de ir aos circuitos visitados pelo campeonato mundial. Estamos na Irlanda do Norte, no lendário triângulo North West 200. É difícil encontrar um cenário mais glorioso. A prova, realizada desde 1929, é uma daquelas corridas de rua tão populares nessas regiões, já que Troféu Turístico da Ilha de Man ou Grande Prêmio do Ulster.

Os participantes não são simples pilotos, mas heróis de uma antiga fábula. Esta disciplina é tão anacrónica que se torna irreal, como se os participantes não evoluíssem no mesmo mundo que nós. Desde a juventude, a maioria esteve perto da morte. Os inscritos nesta edição de 2008 não fogem à regra.

 

O North West 200 é a loucura em pessoa. Foto de : Des Colhoun


Todos os gigantes estão lá. Ian Hutchinson, Guy Martin, John McGuinness, Roberto Dunlop, seus filhos Michael et William, sem esquecer o Steve Plater e outros Michael Rutter. Várias categorias serão disputadas e a maioria dos pilotos participa de várias delas no mesmo fim de semana. Também aí, uma tradição de outra época.

O circuito está preparado para o fim de semana de 18 de maio. Percurso pelos municípios de Portrush, porto et Coleraine a poucos passos do gelado Atlântico Norte, é implacável. Como todos os outros do gênero, é extremamente exigente e diabolicamente rápido.

Os favoritos são sempre os mesmos, os citados acima. Uma figura de espantalho: Roberto Dunlop, de 47 anos, regressou dos mortos depois de uma enorme queda no TT durante a edição de 1994. Este último corre com os dois filhos e prepara-se para a largada nos testes das 250cc. No entanto, Michael percebe algo estranho com a máquina de seu pai. A fumaça não é de dois tempos, geralmente mais azulada. Robert, antes de sair correndo, dá uma piscadela tranquilizadora para seu velho amigo John McGuinness.

Logo após o início dos treinos livres os alto-falantes localizados em Portrush Road não muito longe da linha de largada suspender o tempo. A forte queda do lendário é anunciada Roberto Dunlop no nível de Mathers Cruz. Os primeiros comissários presentes no local apenas puderam observar a extensão dos danos. Em estado crítico, Robert foi levado ao hospital Coleraine, mas desta vez não enganou a morte. Dunlop morreu no mesmo dia por volta das 22h. Na verdade, ele havia engatado o motor, mas, ao querer acionar a embreagem o mais rápido possível, confundiu-a com a alavanca do freio dianteiro localizada no mesmo lado do guidão, adaptada à sua condição física devido aos problemas de mobilidade. Assim, o norte-irlandês passou por cima do guidão a quase 250 km/h, antes de ser atingido no chão por Darren Burns.

 

Aqui está o percurso da “NW 200”. Ilustração: Readro

 


Todo o paddock está em estado de choque. A morte de seu irmão Joey em 2000 ainda estava na mente de todos. No entanto, e é triste dizer, os organizadores estão habituados e não vão parar o evento. É com pesar que os Dunlop, mulheres e crianças, regressam à casa da família. Mas enquanto as visitas de condolências se multiplicam, falta um protagonista: William.

Reservado por natureza, este especialista em categorias pequenas está na garagem preparando as suas 250cc para a corrida de sábado. Por mais louco que pareça, esta decisão estava em harmonia com a combatividade da Dunlop. Nas arquibancadas é difícil de acreditar, mas William está realmente lá para cumprir os prováveis ​​últimos desejos de seu pai, Robert. Cercado por câmeras, ele logo é acompanhado por seu irmão Michael.

O diretor da corrida Mervyn Whyte não é desta opinião; ele considera os dois irlandeses do norte inadequados para começar. Mas Michael consegue entrar furtivamente no portão, meio escondido por sua equipe e um guarda-chuva. Quando a organização percebe, é tarde demais para desalojá-lo, assim como seu irmão. O público, atordoado, teria chorado se tal momento da história tivesse sido impedido de acontecer.

Vamos à corrida. Antes mesmo de as luzes se apagarem, o destino não poupou William: vítima de um problema mecânico, não pode começar. As esperanças de um povo repousam sobre os ombros de Michael Dunlop, de 19 anos. Acredite: os outros motoristas não estão ali para dar presentes apesar da situação.

Desde o início, Michael está na vanguarda. Ele está acompanhado pelos ingleses John McGuinness et cristão Elkin. Observe que todos eles funcionam com quartos de litro da Honda. O público atônito testemunha uma corrida absolutamente fantástica, onde Dunlop e Elkin lutam como se suas vidas dependessem disso. McGuinness não consegue mais acompanhar o ritmo frenético.

 

A estátua de Robert Dunlop em sua cidade natal, Ballymoney, Irlanda do Norte. Foto de : Ramlow


O filho da Dunlop atrasa cada vez mais a travagem e ultrapassa sensacionalmente o seu rival do dia no gancho Esquina York. ParaParado e quase em perigo, ele escorregou por um buraco de rato para assumir o comando da corrida. Ele está solto. Os dois não se separam, mas Michael quer mais. Após 19 minutos de batalha acirrada, ele cruzou a linha diante de uma multidão delirante.

Mal desmontou, ele não conseguiu conter as lágrimas e desmaiou. Seus mecânicos tentam consolá-lo, conversar com ele, mas eles próprios choram e não conseguem esconder a emoção. Verdade seja dita, é difícil encontrar uma única pessoa com os olhos secos nas arquibancadas. Desde o momento em que viu a bandeira quadriculada até descer do pódio, Michael Dunlop não conseguia parar de chorar. Lágrimas de tristeza, mas também de grandeza: acabava de realizar um dos – senão o – maior feito da história das competições de motociclismo.

“É como se houvesse milhares de pessoas na motocicleta de Michael” diz John McGuinness no excelente documentário Capacetes Estrada, que explica a história do clã Dunlop. Posteriormente, Michael fez história ao se tornar um pilar das corridas de rua. No momento em que este artigo foi escrito, ele tinha 22 vitórias no Tourist Trophy e contando. Para William é diferente. Quatro anos mais velho, foi vítima de um terrível acidente durante a Skerries 100 de 2018, outra destas corridas de rua irlandesas.

É difícil ser mais lendário do que a família Dunlop. Você conhecia essa história? Conte-nos nos comentários!

Foto da capa: PAULO

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