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Todos nós ainda temos em mente o desqualificação de Fabio Quartararo na Ilha Phillip.
Vimos os efeitos na corrida, com a “penalidade dupla” infligida ao piloto francês, apesar de uma recuperação esplêndida que o impulsionou do último lugar do grid para o segundo em apenas 4 voltas.

Não adianta voltar a isso; o procedimento está previsto na regulamentação, portanto perfeitamente legal.

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Por outro lado, provavelmente será útil explicar o que aconteceu e quem é o responsável por isso.

Para isso, não se trata de recorrer ao próprio piloto, já que Fabio Quartararo há muito adota uma política de comunicação impecável; apesar dos numerosos erros cometidos pela sua equipa, nunca fez a menor declaração acusatória, nem sequer deu a menor explicação técnica. Quando uma roda é montada de cabeça para baixo, quando uma tampa de óleo está solta, quando um amortecedor falha ou quando a caixa de câmbio faz o mesmo, sorrimos e declaramos que as coisas serão melhores da próxima vez...

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Iremos, portanto, explicar-lhe o que poderá ter acontecido, seguindo a nossa própria investigação, tudo da forma mais simples possível.

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– Todos os Moto3s estão equipados com a mesma ECU Dellorto. (Unidade de Controle Eletrônico, equivalente ao seu computador, sem nenhum programa). Até agora, sem problemas,

– Para gerenciar esta ECU, todos os Moto3s utilizam o mesmo software também fabricado pela Dellorto. (O equivalente ao Windows para o seu computador). Ainda não há problema.

– Este software é alimentado por um arquivo de configuração (às vezes chamado de estratégia pelas equipes). Foi esse arquivo que rendeu a Fabio Quartararo a desclassificação por não ter sido aprovado.

Como isso é possível?

No máximo 4 horas após o TL2, cada fabricante fornece às autoridades (IRTA) e às equipes um arquivo de configuração específico para cada circuito. Portanto, são obviamente diferentes entre Honda, Ktm e Mahindra.
Mas, estes ficheiros também incluem configurações possíveis para melhor adaptá-los a cada piloto e, no final, também são diferentes entre várias equipas da mesma marca, e até vários pilotos da mesma equipa.

As modificações nas configurações deste arquivo de configuração são feitas em um computador usando um programa vendido pela Dellorto. Este programa obviamente só permite ajustes autorizados (sem dúvida de ultrapassar 13 rpm, por exemplo) como ignição, injeção, Launch Control, Traction Control ou calibração de sensores.
Cada arquivo de configuração permite três mapas diferentes, que podem ser alterados à vontade pelo piloto no guidão.

A priori, este processo é, portanto, bem supervisionado e nenhuma irregularidade deverá ser possível.

E ainda assim ...

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A primeira falha possível vem da própria empresa Dellorto, pois se a empresa fornece o mesmo software de ajuste para todas as equipes, utilizável com uma chave “Team”, também desenvolveu outra versão desta chave, aparentemente destinada a fabricantes, onde nenhum ajuste é limitado. Isso permite que eles explorem diferentes caminhos antes de congelar um arquivo de configuração que será aprovado.
O problema advém do facto de hoje a grande maioria das equipas também ter acesso a esta chave “Factory”, para efeitos de testes ou testes privados.
Aí, com este último, se forçarmos um ajuste além dos limites autorizados pela simples tecla “Team” e esquecermos de colocá-lo de volta antes da corrida, o programa de controle das autoridades detecta-o imediatamente e é desclassificado.

Outra possibilidade, o arquivo de configuração utilizado pode estar obsoleto (caso o fabricante o tenha retirado de sua lista de arquivos aprovados, ou ser um arquivo de teste (e portanto nunca aprovado) ou ainda um arquivo desenvolvido pela equipe submetido ao fabricante com um pedido de aprovação que, de facto, não foi transmitido (isto já aconteceu há alguns anos).

Aqui estão a priori todas as possíveis causas que levaram à desclassificação de Fabio Quartararo. Depois, qual dessas possibilidades foi exatamente a que aconteceu em Phillip Island, oficialmente nunca saberemos…
Mas o certo é que o condutor não teve nada a ver com isso e, no entanto, foi ele quem foi (duas vezes) penalizado!

Christian Lundberg, ao microfone do Eurosport: “Este é o mapa por trás da estratégia para condições de chuva. Tentamos vários até sexta-feira à noite, mas descobrimos que não foram aprovados. No sábado uma dessas configurações foi desativada, mas ainda estava lá. Não usamos, mas estava lá. Foi um erro da nossa parte, estamos pagando por isso e lamentamos.”

Dois esclarecimentos adicionais:
– O software de controle de autoridade obviamente permite ver se o mapa foi usado ou não. A priori, este não é o caso porque não faria sentido usar um mapa molhado no seco.
– Não é possível desativar um mapa do arquivo de configuração…

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