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A Federação Internacional de Motociclismo recupera o controle total do Campeonato Mundial e elimina pela raiz a contestada regra do peso do piloto.

por Paulo Gozzi / Corsedimoto. com

Na quarta-feira, 15 de fevereiro, A Federação Internacional de Motociclismo anunciou que a proposta de introdução de um limite de peso combinado entre piloto e moto foi “rejeitada”, ou seja, rejeitado sem recurso. Após o anúncio, muitos especialistas questionaram se a decisão era provisória, ou seja, aguardava nova revisão, ou permanente. A resposta está no texto: a FIM disse claramente que não há mais dúvidas sobre isso.

Quem diz os regulamentos técnicos?

O mal-entendido surgiu do facto de muito poucas pessoas no mundo conhecerem a fundo os regulamentos. O verdadeiro, quero dizer, o “livrinho amarelo” que a FIM publica periodicamente. A última edição é datada de 19 de outubro de 2022 e tem nada menos que 352 páginas. Estou falando sobre os “Regulamentos do Campeonato Mundial de Superbike, Supersport e Supersport 300 da FIM 2022”. Para o MotoGP existe uma edição separada, ainda mais substancial. É uma leitura complicada, principalmente nos últimos tempos, porque certas partes são constantemente modificadas, de modo que no regulamento há palavras suprimidas, outras escritas em vermelho (as novas). Resumindo, meio quebra-cabeça. A parte que nos interessa é o artigo 2.4.4 “Peso mínimo”. Estou copiando a captura de tela abaixo para maior clareza.

O mal-entendido

Como você leu, o peso combinado piloto-moto era simplesmente uma proposta “2024”. Deveria, portanto, ter sido discutido na “Comissão de Superbike” durante a temporada seguinte, antes de uma hipotética aprovação para o próximo campeonato mundial. Aqueles que disseram “farão testes em 2023” não leram as regras, simplesmente confiaram no que disse o comissário técnico do WorldSBK, ou seja, o britânico Scott Smart, ex-piloto e grande promotor da introdução desta regra contestada. O “raciocínio” era simples: anular automaticamente o handicap de peso sofrido pelos pilotos “gigantes” em relação aos pesos penas do estilo Alvaro Bautista. Entre o campeão mundial e pilotos como Scott Redding et Loris Baz, há uma diferença de aproximadamente 28 quilos. Demais, segundo alguns. A ideia era, portanto, lastrar os pequenos modelos para criar um equilíbrio artificial. A FIM declarou que isso estava fora de questão. A proposta está “excluída”. A FIM também explicou o conceito dizendo, em essência, que a Superbike é linda do jeito que é. Não há necessidade de alquimia. Período.

O que está por trás

A expressão “excluído” deve ser interpretada como um novo golpe na mesa que a FIM, ou seja, o presidente Jorge Viegas, desferiu à Dorna. O primeiro golpe foi a defenestração de Scott Smart, que vestiu a camisola “FIM” mas que, na prática, sempre foi um homem da Dorna. Viegas colocou em seu lugar o francês Ludovic Reigner, ex-técnico de eletrônica da escola Yamaha, contratado pela FIM há mais de um ano. O segundo movimento foi o cancelamento da proposta de “peso combinado”, que a FIM confiou ao “SBK Permanent Bureau”, órgão superior à “Comissão de Superbike” controlada de facto pela Dorna. Como se dissesse: de agora em diante, fazemos o que dizemos.

A FIM de volta ao convés

Não é mistério que Viegas não goste da tendência que as Superbike têm tomado, ou seja, do jogo contínuo de alterações regulamentares pretendido pela Dorna para permitir que todos os fabricantes sejam protagonistas, mesmo ao custo de alterar a natureza das “Superbike” básicas. " conceito. As Super Concessões, ou seja, a capacidade de alterar as dimensões do chassi e os pontos de montagem do braço oscilante, darão à Honda e à BMW (pelo menos nas três primeiras rodadas) a oportunidade de correr em motos distantes, a vários anos-luz das versões de estrada, mesmo naqueles detalhes que nunca foi autorizado a ser modificado. É plausível pensar que as Super Concessões seguirão em breve o mesmo destino do peso combinado: “descartadas”.

O que está por trás disso?

Recordamos que em 2019, o próprio Viegas declarou que não era adequado que uma mesma empresa, nomeadamente a Dorna, detivesse os direitos de dois campeonatos do mundo de natureza tão diferente, nomeadamente o MotoGP e o Superbike. “Estou trabalhando para mudar isso”, ele ameaçou. A FIM quer mais concorrência, ou seja, poder alavancar a venda de direitos com mais jogadores. O objetivo de Viegas provavelmente abrirá a mesa para o Discovery, atual operador do Campeonato Mundial de Endurance. A Discovery é um ativo da gigante Warner Bros, mesmo grupo que também é dono da Fórmula 1 através da Liberty Media. Por outras palavras, uma entidade muito maior e mais rica que a Dorna. Neste momento, Carmelo Ezpeleta não quer ir à guerra, mas sim ceder posições para preservar a fortaleza fundamental, ou seja, o MotoGP. Assim, abrir mão do controle dos regulamentos técnicos das Superbike é uma concessão egoísta: a FIM simplesmente precisa ficar longe das estratégias do MotoGP, como tem feito nos últimos trinta anos.

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Paulo Gozzi